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O QUE ESPERA MATILDE EM SUAS NOITES PONTILHADAS 
G. Itocazo, da série Insônias 2013

 

Como fazia a seu gosto ter contorno as bordas de matagais à terra batida e de vontades maculadas que lhe comiam as estrada todas as noites que começavam sem fim? E agora o que temos na porta de casa, debaixo dos lençóis vencidos, abandonado em armários pendentes, nos detalhes amorosos de fotos passadas, no meio de uma música colecionada em passatempos de mortes num dia inteiro?

 

O que temos nas mãos nessa pausa de repente
Quando tudo estranha o ritmo dos olhos
E você falta no corpo ou naquela noite na montanha dos Alpes onde aprendeu a desistir em silêncio? O que há, Matilde, na linha sem trégua que nos faz chegar cansados numa noite sem norte que pontilha a hesitação e nos emparelha no vazio que há depois de uma palavra inútil?


Como chorávamos núpcias das infâncias nas beiras dos rios de nossos olhos... Por que éramos uma porcentagem lamuriosa de imbecilidades e crenças, enquanto entonávamos canto de vitória às convicções afiadas de tolices que levantávamos sobre nossos corpos, condenando-nos, sem saber, à uma morte dolorosa ou sem qualquer glória?

 

O que afinal deixou escondido nesses olhos pontilhados sem destino, Matilde, sob teu manto voluptuoso de conquistas e gostos, na porta do peito de crer direitos de vontades cruas, ao tempo em que tudo entristecia mais ainda em ser afiado de tolo, denunciando as noites abertas sem cuidados, devorando órgãos de silêncio e calma em palavras gordas e ferozes, faminta de pensamentos perdidos, descendo pelo o que fiava a própria morte como o certo?

 

Era fácil penetrar nas noites batidas

De estrelas derretidas de ódio
Sob o manto pontilhado das luas sinceras
Donde o peito sabe que o amor te levava às beiras de si 
Arrastada pelos cabelos desentranhados e pelas peles abertas de vergonhas e vontades claras
Sem querer agarrar a mão ao peito 
Implorando que se partisse o que não te tinha por um todo?

 

Matilde. 

É triste 


Que toda noite tenha um fim
Ainda que te torne pontilhada
como uma estrela pendente de morte

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